Duas décadas surfando nas ondas do mar e do som
Armandinho faz show em Porto Alegre neste sábado (17), depois de três anos
Depois de três anos, o cantor e compositor Armandinho retorna a Porto Alegre, sua cidade natal, para realizar um show no Auditório Araújo Vianna (av. Osvaldo Aranha, 685), trazendo os maiores sucessos de sua carreira. Ele sobe ao palco do espaço cultural às 21h deste sábado (17) para única apresentação, onde irá executar canções como Sol loiro, Pescador e Outra vida. Os ingressos já estão esgotados.
Nascido em 22 de janeiro de 1970, Armando Antônio da Silveira cresceu junto com a década que trouxe a ascensão do rock gaúcho. Se afastando do nublado londrino que evocavam os roqueiros beatniks porto-alegrenses, Armandinho foi buscar no sol, no mar e no calor a linha condutora de sua arte. Bebendo na fonte dos clássicos do reggae, como Bob Marley, mas nutrindo a veia baladeira dos Beatles e da tradição roqueira da capital gaúcha, o artista construiu sua identidade e também uma nova ideia “para” e “de” Porto Alegre.
A capital brasileira mais ao Sul do País, que abriga entre seus edifícios cinzas um inverno frio por quase metade do ano, fez nascer o reggae salgado de mar e sujo de areia de Armandinho. “Porto Alegre tem alma de cidade praiana, mas não é”, comenta o músico. A ausência de mar criou a tradição porto-alegrense de esvaziar a cidade e pegar a estrada rumo ao litoral durante todo o verão, e esse costume que é algo “tão nosso” virou sucesso em todo o Brasil nos versos do cantor.
Com alma litorânea, Armandinho exprime nas suas canções a cultura dos surfistas da cidade, que fogem do caos urbano em busca das ondas — já que as águas que banham Porto Alegre são calmas demais. “Eu estou inserido nesse contexto de sair em busca de um pouco de natureza, de ar puro, de pegar onda”, diz. “Porto Alegre tem muitas praias próximas, que fazem parte da cultura da cidade.” Além das praias, as canções do compositor também trazem, desde sempre, a mensagem do amor e da leveza. “Acho que eu acabo me tornando o mensageiro do amor para as pessoas que são apaixonadas e românticas.”
Com mais de 20 anos de carreira, o cantor sempre esteve rodeado de música durante o decorrer de sua vida. Sua mãe, a maior apoiadora da sua carreira, comprava todo mês um disco de rock ou de MPB para ouvir em casa, e seu pai tocava muita música brasileira no violão, o que fez nascer a veia musical de Armandinho. Além disso, a música serviu como instrumento para superar a sua gaguez na infância: percebeu que quando cantava, não gaguejava, e começou a se comunicar através das canções.
Aos 11 anos, o artista já surfava e começou a “pegar a Freeway” para subir na prancha com os amigos. Com a mesma idade, iniciou as aventuras nas ondas da composição e já escrevia algumas músicas. Mas o sucesso musical veio mesmo nos anos 2000, quando uma das fita cassetes que distribuía com as suas canções estourou nas rádios. Em 2002, gravou seu primeiro álbum, Armandinho, consolidando o reggae sulino na cena nacional e marcando gerações que se enxergaram nas particularidades expressadas nas composições.
Ao longo dos anos, mais sete discos foram lançados, todos despontando na cena musical e entalhando o nome de Armandinho no universo artístico nacional e internacional. “Eu nunca esperava ter tantos anos de carreira. Acho que nunca tive ansiedade e fui deixando a música fluir e as gerações foram se renovando: automaticamente, os pais foram passando para os filhos, e assim vai essa corrente”, reflete o músico. “Eu fico muito feliz de ter esse resultado depois destes vários anos de carreira.”
Com centenas de músicas lançadas, Armandinho comenta que, nos shows, o público é sempre fiel àquelas canções que mais tocaram os seus corações desde o início, mesmo que já estejam no mundo há muitos anos. “Minha música é atemporal, é uma música que não tem década. Acho que ela faz parte da evolução das pessoas”, analisa. E para o show deste sábado, ele promete que além dos longevos clássicos, não vai faltar a emoção de quem volta para casa: “Porto Alegre é o meu berço. Eu nasci, estudei, fiz meus primeiros amigos e vivi 30 anos na capital gaúcha — é uma vida inteira. É sempre bom voltar, sentir o aconchego das pessoas, sentir o cheiro de casa, estar perto da minha família, perto da minha mãe. Essa cidade é muito especial para mim, que eu me emociono muito quando toco.”
(matéria publicada no Jornal do Comércio do dia 15/06/2023)